Pela janela do terceiro andar posso ver o mundo espelhado nas águas do Tejo, na perspectiva que me apetecer, da vazante ou da enchente. Mais do que isso, é a capacidade do “Cacilheiro” que transporta o tempo sempre muito bem contado e pesado, não vá o diabo tecê-las.
Galgando lá para a frente, mesmo pela janela do terceiro andar, não consigo ver com a mesma clareza as imagens muito coloridas e com os contornos bem vincados. Agora, com muito tempo contado e transportado, tudo está envolto em neblina sem se saber onde é o princípio e o fim.
Neste sítio, depois da contagem, deixaram de chamar ao pagamento do trabalho, “féria” ou “jorna” e passaram a dizer-me que é “ordenado” ou “vencimento”. Qual é a diferença? Não será a mesma coisa?
Se calhar não!
Aqui e agora, o que se diz antes do tempo contado pode não ser a mesma coisa que se diz depois do tempo contado. É como se vê espelhado na correnteza do Tejo:
Nas mesmas águas se lêem imagens distintas, consoante sobem ou descem. O que é verdade num momento é mentira noutro!
Daquela janela do terceiro andar a um passo (de gigante) das águas-furtadas,
via sempre a mesma verdade!
SBF