A volta das voltas. Chegamos, partimos e lá voltamos sempre!

06
Jan 11

Pela janela do terceiro andar posso ver o mundo espelhado nas águas do Tejo, na perspectiva que me apetecer, da vazante ou da enchente. Mais do que isso, é a capacidade do “Cacilheiro” que transporta o tempo sempre muito bem contado e pesado, não vá o diabo tecê-las.

 

Galgando lá para a frente, mesmo pela janela do terceiro andar, não consigo ver com a mesma clareza as imagens muito coloridas e com os contornos bem vincados. Agora, com muito tempo contado e transportado, tudo está envolto em neblina sem se saber onde é o princípio e o fim.

 

Neste sítio, depois da contagem, deixaram de chamar ao pagamento do trabalho, “féria” ou “jorna” e passaram a dizer-me que é “ordenado” ou “vencimento”. Qual é a diferença? Não será a mesma coisa?

 

Se calhar não!

 

Aqui e agora, o que se diz antes do tempo contado pode não ser a mesma coisa que se diz depois do tempo contado. É como se vê espelhado na correnteza do Tejo:

 

Nas mesmas águas se lêem imagens distintas, consoante sobem ou descem. O que é verdade num momento é mentira noutro!

 

Daquela janela do terceiro andar a um passo (de gigante) das águas-furtadas,

 

via sempre a mesma verdade!

 

SBF

publicado por voltadoduche às 17:29

15
Dez 10

 

Olhando pela janela do terceiro andar em dias de luz lisboeta intensa de Primavera prometida, conseguia medir o tempo em horas, marcando, em linhas verticais, a passagem do Sol. Primeiro de manhã, beijando o estuário do Tejo começando pelo Mar da Palha até à direção de Cacilhas, depois, por cima das águas-furtadas e, por último e pela direita, lá se escondia atrás dos prédios.

 

Na janela do terceiro andar, ouvindo o “telim-telim” do amarelo que subia e descia a do Alecrim, sentindo e adivinhando os idos e entrados no Bragança, o meu peito ofegava e enchia-se de luz porque a Primavera ainda podia vir. O “Cacilheiro” que vem e a “Falua” que vai, completam a cena da tela cheia de cor e vida prometida.

 

Até o da Terceira que era Duque e antes de Vila Flor e se empenhou na empresa para recuperação da Constituição Liberal de 1822 em nome do Regente, Imperador dos Brasis e Rei de Portugal batizado de Pedro umas vezes primeiro outras quarto, mas sempre o mesmo, até esse… naquela posição de combatente depois da miguelada e vilafrancada absolutista e reacionária. Até ele teve a sua Primavera e admira e é admirado por todas as janelas da Praça e também pela do terceiro andar.

 

Até o Bernardino Costa, herói Bombeiro da Cidade e, por isso, com muita coragem, consegue abraçar o bom, o mau e o assim-assim, destes quarteirões, das gentes em vai e vem p’rós lados dos “pouca-terra, pouca-terra” mais o Tejo que corre sempre cheio depressa na vazante, não vá a Primavera chegar, até para lá de Belém e de Pedrouços até à Barra depois de passar o Bugio.

 

À mesma hora, diziam que o ditador de botas estava a dar o último suspiro!

 

No terceiro andar, pela janela virada ao Sol, eu, por momentos, horas e dias, acreditei que era Primavera, mas não veio, ficou ainda Outono e Inverno durante muito tempo contado em anos… E os lenços brancos continuaram a acenar…a acenar…e a multiplicarem-se sem parar…acenavam, acenavam e foram… e mataram e morreram!

SBF Silvestre Félix

 

(Imagem: Desembarque de militares portugueses em Luanda-1961. Internet)


23
Jun 09

 

Daquela janela do terceiro andar observava os vidros do número sete da “Bensaúde” e, no último piso, as águas furtadas com o acesso ao estendal da roupa que, beijando o sol da manhã pela nascente, incentivava o olhar alegre e penetrante enquadrado num sorriso arrepiante de paixão.
O sol no enfiamento da do alecrim até ao Camões, dava o pretexto para descer até ao “Califórnia” com as lulas recheadas, o bitoque ou o bife à café. Findo o lauto, e o cumprimento de despedida para o António e o Chico das mesas, saindo pelo caminho dos da carris, o “Brithis Bar” e o tubo cromado acompanhando o balcão em cima e em baixo para posar o sapato, o relógio de parede com as horas ao contrário e aquela gravura centenária do veleiro do agente vizinho. O digestivo, e o Vicente, o digestivo e o Oliveira (cliente) porque o Oliveira (barman), por esta altura, já não fazia parte dos vivos. O digestivo e o Caparica, o digestivo e o Zé Manel e o Mendes e o Louro e o Milheiro e o Nunes e…
O “gravateiro” chinês e o cauteleiro com a terminação. Fatos, gravatas e sapatos engraxados. Último quartel do almoço, pela esquina do corpo santo até à Ribeira das Naus e a relva da borda d’água. O Tejo naquele dia corria para a barra e o cacilheiro navegava ao contrário para chegar ao cais do Cais do Sodré.
O Tejo e o mar da palha. A água forma pequenas ondas que vão batendo nas pedras da margem. Falando, olhando, rindo, rosário de Maria, e eu, na direcção contrária à corrente até ao cais das colunas. O olhar da alma e o sorriso e eu e rosário de Maria voltando no enfiamento da do alecrim. Eu menino, ela menina, e os dois alegres e felizes.
Eu estava naquela janela do terceiro andar.
SBF
(Foto: Praça Duque da Terceira em Lisboa - Wikipédia)

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