Daquela janela do terceiro andar observava os vidros do número sete da “Bensaúde” e, no último piso, as águas furtadas com o acesso ao estendal da roupa que, beijando o sol da manhã pela nascente, incentivava o olhar alegre e penetrante enquadrado num sorriso arrepiante de paixão.
O sol no enfiamento da do alecrim até ao Camões, dava o pretexto para descer até ao “Califórnia” com as lulas recheadas, o bitoque ou o bife à café. Findo o lauto, e o cumprimento de despedida para o António e o Chico das mesas, saindo pelo caminho dos da carris, o “Brithis Bar” e o tubo cromado acompanhando o balcão em cima e em baixo para posar o sapato, o relógio de parede com as horas ao contrário e aquela gravura centenária do veleiro do agente vizinho. O digestivo, e o Vicente, o digestivo e o Oliveira (cliente) porque o Oliveira (barman), por esta altura, já não fazia parte dos vivos. O digestivo e o Caparica, o digestivo e o Zé Manel e o Mendes e o Louro e o Milheiro e o Nunes e…
O “gravateiro” chinês e o cauteleiro com a terminação. Fatos, gravatas e sapatos engraxados. Último quartel do almoço, pela esquina do corpo santo até à Ribeira das Naus e a relva da borda d’água. O Tejo naquele dia corria para a barra e o cacilheiro navegava ao contrário para chegar ao cais do Cais do Sodré.
O Tejo e o mar da palha. A água forma pequenas ondas que vão batendo nas pedras da margem. Falando, olhando, rindo, rosário de Maria, e eu, na direcção contrária à corrente até ao cais das colunas. O olhar da alma e o sorriso e eu e rosário de Maria voltando no enfiamento da do alecrim. Eu menino, ela menina, e os dois alegres e felizes.
Eu estava naquela janela do terceiro andar.
SBF
(Foto: Praça Duque da Terceira em Lisboa - Wikipédia)