Aida Gomes é Angolana de nascimento e, após a Independência, veio com o Pai para Portugal fugindo à severidade da Guerra. Aqui viveu e sentiu o ingrato preconceito dos que cá estavam.
“Os Pretos de Pousaflores”, não é a história da autora. Aida Gomes, com a sua experiência no terreno, mostra-nos os regressados de forma diversa da que nos habituamos a ver. “Silvério” que partiu sozinho para Angola ainda mancebo, volta à sua terra natal nos confins das montanhas do centro de Portugal trazendo consigo três filhos. Dos quatro, só ele é branco. Mais tarde juntar-se-á a mulher de uma das filhas. Este é o ponto de partida para uma maravilhosa narrativa.
O Pai revive todo o seu passado colonial e até tem uma “linha direta” com o histórico “Silva Porto”. Os filhos, cada um à sua maneira, crescem pelas vidas que vão tendo à mão, nem sempre pelos melhores caminhos. O Justino regressa mesmo às origens, retomando o correr normal da emergência da terra angolana.
Os diálogos levam-nos a um mundo do hemisfério sul, temperados com aquele sabor da língua portuguesa quente como a terra.
Aida Gomes é uma mulher do mundo. Nasceu perto do Huambo em Angola, vive desde 1985 na Holanda onde estudou e fez mestrado sobre processos históricos e políticos na África Subsariana. Trabalhou e residiu no Cambodja, em Moçambique, no Suriname, em Angola, na Libéria, no Sudão e na Guiné-Bissau. Está ligada à ONU tendo vivido muitas situações de conflito e pós-conflito com todas as consequências que se adivinham. Já adulta procurou as suas raízes em Angola e acompanhou sempre o Pai até à sua morte com visitas frequentes a Portugal desde a Holanda.
A edição é das “Publicações Dom Quixote” e a 1ª em Fevereiro de 2011. A gravura é a capa do livro importada do site da editora.
Silvestre Félix