A volta das voltas. Chegamos, partimos e lá voltamos sempre!

06
Abr 15

A chuva cai em abril!

Abril deveria ser sempre luz e esperança. Abril deveria trazer sempre; bons ventos, bons casamentos, bons empregos, muita saúde e felicidade!

O cinzento domina este País e a chuva cai em abril!

Destroem-nos de alto-a-baixo e nem abril escapa!

Silvestre Félix

6 de abril de 2015    

publicado por voltadoduche às 15:31

09
Mai 13

 

Pelas avenidas, pelas ruas becos e travessas, as espingardas gritavam, continuamente, improvisadas palavras de ordem e as flores, que eram vermelhas, transbordavam de felicidade passando de mãos e mãos poisando nos canos das “getrês” e nas largas bocas das pesadas viaturas dos aderentes regimentos de cavalaria.

 

Os homens e mulheres só tomavam aquele rumo. A “guarda-de-honra” agora era civil e onde estivesse um “Militar-de-Abril” haviam de estar, à sua volta, dezenas, centenas ou milhares de felizes portugueses.   

 

«Olha, que coisa mais linda…», se dizia, do nosso País, no outro lado do Atlântico e também o Chico; «…ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal…». E em Abril, Portugal se tornou um mar de esperança.

 

Quase quarenta de tempo contado em anos a esperança esmorece e a chama está praticamente apagada.

 

Contudo, a primavera está e as vermelhas que são flores também ainda estão – VIVAS!!


Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 15:29

19
Fev 13

Pela janela daquele terceiro andar conseguia ver o mundo.

 

Via, como tantas outras vezes já disse, o Tejo desde a ponte até à margem do Montijo e Alcochete. Na correria desalmada das marés, enchentes ou vazantes, acompanhava o vai e vem dos cacilheiros, um ou outro grande petroleiro arranjando direção para se enfiar numa das docas secas da Margueira ou esperando, quietinho, ao largo no grande Mar da Palha pelo lado esquerdo do meu ângulo de visão, ainda uma ou outra vela banda duma velha falua ou de simples bote pesqueiro na chegada ao cais.

 

Conseguia ver, daquela janela do terceiro andar, o ajuntamento desembocado pelos chegados de comboio e que contavam subir a colina pela do Alecrim de amarelo ou então tomarem lugar no 22, 44, 45 ou 8 da Carris para o miolo da Capital. Vi, porque ainda estava na janela do terceiro andar, os protagonistas da Revolução. A multidão cada vez engrossava mais e os militares entravam na praça vindos da rua Bernardino Costa e Arsenal. O meu mundo, naquele dia e visto da janela do terceiro andar, era da cor da vida, da esperança. Os vivas de apoio invadiram o terreiro ao cais e ascenderam ao Camões e ao Chiado com a velocidade de um sopro porque eu vi e senti desde a janela daquele terceiro andar.

 

O cais do Sodré e da Ribeira foram testemunhas do que consegui ver da janela daquele terceiro andar. Tudo ia ser possível e não voltava a ser preciso forrar a capa dos livros e esconder a primeira página do vespertino “A República”. Os cravos, ainda naquele dia, iam nascer pelas espingardas e a “Grândola Vila Morena” do Zeca Afonso ia ser rainha das cantorias da Liberdade e muito tempo depois contado em anos, seria hino revolucionário cantado em toda a Península Ibérica, desde o parlamento no Palácio de São Bento às manifestações nas ruas de Madrid.

 

Silvestre Félix


24
Abr 12

E o “bufo” recebeu o envelope que continha o pagamento das denúncias do mês de março. Era abril e o “bufo” contava fazer um bom mês em consequência do levantamento dos militares das Caldas.

 

Mal sabia o “bufo” que acabava de receber o último envelope daqueles que moravam na António Maria Cardoso.

 

Quando se deitava, antes de adormecer, como se fosse um jogo de adivinhação, imaginava que tortura teria sido aplicada a fulano, a beltrano e por aí fora. Pelas suas contas, durante este mês de “águas mil”, iria atingir a centena de “bufarias”.

 

Mal sabia o “bufo”, porque era o vigésimo quarto dia do mês, que nunca chegaria a cem denúncias.

 

Ouviu-se, “E depois do adeus” e a “Grândola Vila morena” e, pela madrugada, enquanto o “bufo” se preparava para assobiar para o lado e abraçar efusivamente o vizinho que antes denunciara, o “mancebo” acordava com as marchas militares que brotavam da telefonia.

 

E o mancebo ouvia,

 

e o mancebo pensava,

 

e o mancebo tentava adivinhar,

 

e o mancebo perguntou e a telefonia respondeu:

 

Aqui, posto de Comando do Movimento das Forças Armadas!


E o mancebo ouviu tudo e gritou:

 

A GUERRA VAI ACABAR!

  

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 21:55

25
Abr 11

 

Até Guimarães fui e, por essas estradas abaixo, voltei!

 

Rever família e amigos, no berço, em casa me vejo.

 

Com espírito de Abril e sentimento pascal, coincidência pouco conveniente mas autentica, que a lição dos Capitães continue pelos tempos. Em Guimarães ou na Abrunheira, o tempo de Abril continua vivo e com vontade de assim permanecer.

 

As portas que Abril abriu não se questionam!

 

Viva o 25 de Abril!

 

25 de Abril sempre!

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 19:48

14
Abr 11

Otelo Saraiva de Carvalho declarou ontem à Lusa;

 

«…que hoje em dia não faria a revolução, se soubesse que o país iria estar no estado em que está.»

 

Não concordo em absoluto com uma afirmação deste tipo. Tenho grande admiração por Otelo e ainda hoje acabei de ler o seu último livro que me enriqueceu o conhecimento sobre o que se passou naquele dia 25 de Abril de 1974.

 

A Revolução dos Cravos, que Otelo coordenou em termos operacionais, alterou muita coisa que não tem rigorosamente nada a ver com a situação económica e financeira que hoje se vive em Portugal Fim da Guerra Colonial, final do império com a independência das colónias e fim da opressão e domínio de outros povos, desmantelamento do Estado fascista com o fim da censura e polícia política, instauração das liberdades individuais e coletivas e institucionalização do Estado democrático em todas as suas vertentes, etc., etc.

 

Otelo Saraiva de Carvalho sempre nos foi habituando, nestes 37 anos, a alguns “pronúncios” polémicos. O seu voluntarismo e a sua espontaneidade têm sido suficientes para desculpar uma ou outra “tirada” mais a despropósito, mas esta é de “bradar aos céus”. Ainda assim, Otelo tem de continuar a ser polémico senão deixa de ser autêntico. Com certeza foi levado pela revolta, que é comum a grande parte dos portugueses neste momento, mas, relendo as suas próprias declarações, já terá concluído que não era bem aquilo que queria dizer.

 

Um destes dias falarei aqui do seu livro “O Dia Inicial”, que vem mesmo a calhar neste mês de Abril.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 22:20

04
Abr 11

 

 

«Senhores, estamos aqui em nome da Liberdade. É em nome da Liberdade que não faremos justiça por nossas próprias mãos. As pessoas por quem esperam devem abandonar este local em inteira segurança, a fim de serem julgados.» (1)

 

Gritou o Capitão Salgueiro Maia, duma das janelas do Quartel do Carmo, de megafone na mão.

 

Era cerca das seis da tarde de 25 de Abril de 1974, o Largo do Carmo a abarrotar de gente que reclama, aos gritos, que lhes seja entregue Marcelo Caetano.

 

A sabedoria e o bom senso de Salgueiro Maia foram fundamentais para o sucesso desta hora crucial da revolução dos cravos – A rendição de Marcelo Caetano!

 

O Capitão Salgueiro Maia, que encarnou o espírito mais verdadeiro do 25 de Abril, morreu no dia 4 de Abril de 1992, faz hoje 19 anos.

 

Silvestre Félix

 

 

(Nota (1): Extraído do livro “O Dia inicial” de Otelo Saraiva de Carvalho)


08
Mar 11

 

João Paulo Guerra é um nome e uma voz que conheço desde o tempo do «PBX» e «Tempo ZIP» no antigo Rádio Clube Português. Mais recentemente voz da TSF e, atualmente, da Antena 1.

 

As ruas e as colinas de Lisboa, da Graça ao Bairro Alto e à Madragoa, as perseguições aos democratas pelas denúncias dos “bufos” e a PIDE e a Legião ao serviço da ditadura. O drama familiar e os traumas de Pedro que havia de ser um dos protagonistas duma das mais belas páginas da história de Portugal: 25 de Abril de 1974!

 

O autor percorre, com a sua narrativa, um período muito presente para mim – Os antecedentes e o que se seguiu à revolução dos cravos. Identifico-me com Pedro, especialmente com a permanente vontade de não se sentir alinhado, de poder concordar ou discordar quando lhe apetecesse e, muito embora a sua condição de militar, ser, por natureza, um pacifista como fora seu Pai.

 

O romance de JPG ajuda também a perceber o papel de algumas forças ocultas durante o nosso processo revolucionário e não só! A contra-revolução era muito mais global do que à primeira vista se pensava.

 

Parabéns ao autor pelo excelente trabalho!

 

Edição da “Oficina do Livro”, a 1ª em Setembro de 2010.

 

Silvestre Félix

 

(Gravura: Capa do livro do site da editora)


09
Jan 11

Todos os portugueses que festejaram o 25 de Abril, e que acreditaram na verdade dos homens que o tornaram possível, ficaram hoje mais pobres com o desaparecimento terreno de Vitor Alves.

 

Mais pobres, porque esta sensação de perda dos valores interiorizados naquele dia e nos que se seguiram, cresce e acelera quando um dos principais obreiros da revolução morre.

 

Vitor Alves, para além da sua operacionalidade antes e durante o dia 25 de Abril, foi uma força importante de moderação nos tempos que se seguiram, optando com outros, e à medida que se iam medindo as influências partidárias, por uma postura central muito difícil de assumir e materializar naquela época.

 

O Capitão de Abril não estava, de certeza, satisfeito com a situação atual de Portugal.

 

Quando acima digo “perda” é neste sentido: Deficit externo de dois dígitos, deficit orçamental previsto para 2010 de 7,3%, dívidas soberana e nacional excessivas para a debilitada situação económica, as permanentes ameaças à nossa soberania – hoje económicas, não militares – por forças completamente obscuras ao serviço do grande capital universal e que se sobrepõem a todas as instituições democráticas, a regressão de fato, do nível de vida dos portugueses com uma taxa de desemprego nos máximos históricos e, em consequência de tudo isto e dos interesses anti-comunitários da União Europeia, o Governo do PS – porque se fosse doutra cor partidária era o mesmo – é obrigado a fazer um orçamento altamente recessivo com todos os sacrifícios que isso implica.

 

Por outro lado, o Capitão de Abril estava de consciência tranquila porque todo o esforço e luta empreendida naquela época, resultou em muitas coisas boas e essenciais para recuperar o caminho certo da nossa história:

 

A Guerra Colonial acabou, os povos das antigas colónias puderam finalmente ser independentes, a pide foi desmantelada assim como todo a estrutura do Estado da ditadura, foi eleita uma Assembleia Constituinte e elaborada uma Constituição Democrática que, por sua vez, deu lugar a eleições democráticas para o Presidente da Republica, para a Assembleia da República e para as Autarquias, a economia, a pouco e pouco, democratizou-se, deixamos de estar orgulhosamente sós e passamos a fazer parte da família europeia e, à medida que os anos passaram, o sistema democrático foi sendo encarado como o ar que se respira.

 

Duma forma geral, e por muito que nos queixemos, não há comparação possível entre o Portugal de Abril de 1974 e o de hoje. A Evolução foi a pique. É bom não esquecer que, para além de todos os problemas que aí estão, fazemos parte do conjunto reduzido de Países a que chamam ricos!

 

Vitor Alves é merecedor de todas as homenagens.

 

Que descanse em Paz!

Silvestre Félix

 

(Foto: Expresso Online)


11
Nov 10

 

Angola era, aquando do triunfo da revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal, palco de uma das frentes da Guerra Colonial que o antigo regime português teimava em manter.

 

Um dos principais objetivos dos revolucionários portugueses e que constava mesmo no programa do MFA, era o fim dos combates e iniciar negociações com os Movimentos de Libertação Nacionais para a autodeterminação e independência de cada uma das Colónias.

 

As duas primeiras intenções foram pacificamente atingidas mas, a seguir – dada a circunstância de Angola ter três Movimentos de Libertação ativos nas negociações e na ambição de chegarem ao poder – as coisas não foram fáceis, mas isso é outra história.

 

A data foi marcada e, antes da meia-noite deste dia 11 de Novembro de 1975, a bandeira portuguesa foi arreada, os últimos representantes da soberania portuguesa deixaram Luanda e, subiu ao mastro, a bandeira nacional de Angola.

 

Angola não se livrou da guerra com a independência em 1975. Os angolanos continuaram a ouvir os disparos das metralhadoras e os rebentamentos de minas, com os sacrifícios que isso implica, até 2002, ano em que, com a morte do líder da Unita, o confronto chegou finalmente ao fim.

 

Hoje, Angola é um dos principais Países africanos, com uma taxa de crescimento das mais elevadas, faz parte da “Lusofonia” integrando ativamente a CPLP, é um forte parceiro de Portugal a todos os níveis e, é um dos destinos prediletos dos portugueses para emigrarem.

 

De 1982 a 2002, fui muitas vezes a Angola e passei lá alguns períodos de dois ou três meses. Senti-me sempre em casa e tenho muitas saudades da terra e dos angolanos que tive o gosto de conhecer.

 

SBF

 

(Imagem: Wikipédia)


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