Daquela janela do terceiro andar, via o rio à esquerda chapado nos estaleiros e docas secas em Cacilhas, com letras muito grandes “Lisnave”, orgulho do regime em “primavera” corrida com fim já não muito longe. Recortando ainda esta visão de “esquerda” (para o Tejo), a estátua no meio da praça, que todos dizem - Cais do Sodré, mas é do Duque da Terceira, esta ilha dos Açores, e este Duque, companheiro de armas do quarto D. Pedro, primeiro do Brasil, que daquele grupo central do arquipélago navegou até ao continente e desembarcou na “Invicta” para acabar de vez, em nome do quarto D. Pedro e primeiro do Brasil, com a aventura absolutista do ditador primeiro D. Miguel, em conluio com a mãe, Dona Carlota Joaquina, dos dois D. Pedro e D. Miguel.
Daquela janela do terceiro andar via e ouvia os amarelos que, ao passarem sobre os carris, guinchavam e rolavam em direcção ao Camões a subir ou a descer em direcção à dita praça que já foi terreiro, do cais e agora do Duque. Os amarelos tinham outras cores vistosas de publicidade e os pendurados davam ainda mais “gosto” ao vai e vem e ao som único do T’liiim! T’lão! Dos amarelos da Carris.
Daquela janela do terceiro andar via, os que entravam e saiam da estação dos comboios “pouca – terra – pouca - terra” da antiga primeira ou segunda classe, não do comboio mas da escola primária de assentos com nome de carteira em peça única com tinteiro para a caneta de tinta – permanente. Reguadas e palmatórias com ponteiro de cana – da – Índia eram ferramentas do “ensinador” oficial.
Daquela janela do terceiro andar via, para o meu lado direito de quem sobe, a entrada para o velho hotel Bragança que já era para o Eça, Bulhão Pato e outros famosos do dezanove desde a contagem depois de Cristo em séculos.
Daquela janela do terceiro andar via, todos os dias e a toda a hora, mesmo à frente do outro lado da, do alecrim, as águas – furtadas que “furtavam” o meu sossego, em sonho constante de rosário de Maria com respeito e de contido desejo à medida da verde idade. Logo de manhã, todos os dias, aquele percurso rotineiro pela Bernardino Costa, largo do Corpo Santo a do Arsenal pelo Município até ao Terreiro. Depois a volta, a respiração ofegante, as pernas a tremerem, a mão quando toca vira choque como se fosse electricidade, ela a corar sempre no meu olhar. O tempo passou contado em muitos anos. Rosário de Maria cheia de amor disponível, e que deixei no meio daquele Verão quente que na história será “ PREC”.
E o Cacilheiro zarpa do cais do sodré para a outra margem, e tanta gente, e depois vem, e eu, o vejo sempre de lá para cá e de cá para lá, daquela janela do terceiro andar.
SBF