Todos os Primeiros-Ministros dão, de vez quando, tiros nos pés. Há estragos que se curam mais depressa que outros e há mesmo alguns, que gangrenam.
Há dezanove anos, um outro, que agora mora em Belém, também deu um tiro no pé com a mesma arma – O Carnaval! Nunca mais (o pé) voltou ao que era. Foi com a história da retirada de tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval de 1993 que, o então Primeiro-Ministro começou a curva descendente até perder do poder.
Este é o dia em que, no nosso País, mais pessoas saem à rua em festa ao mesmo tempo. São muitas centenas de milhares de portugueses que assistem aos desfiles e participam de norte a sul, nesta tradição pagã multisecular.
Do ponto de vista económico a decisão do Governo é absolutamente contraditória com os propalados objetivos. O Carnaval funciona para muitas regiões como autentico “balão” económico. A pequena industria, o turismo e o comércio local revitaliza-se com a preparação e com a realização dos festejos carnavalescos.
Os investimentos das comissões promotoras são, duma forma geral, recuperados e na maior parte dos casos lucrativos. Nãosão estas boas razões para toda a gente estar a protestar? Mesmo sendo alguns correligionários do Primeiro-Ministro? É legítimo que receiem a quebra de receitas. Vai com certeza haver menos gente.
Então que fazer agora com todo o planeamento a contar com a tolerância de ponto do dia 14? Na saúde não há consultas, nas escolas há férias, nos tribunais não há julgamentos nem ações de rotina, noutros serviços abertos ao público a programação já conta com esta interrupção, enfim, é tudo contra a “convicta” opinião do Primeiro-Ministro que, desta maneira, deixa que se colem a si, mais uns quantos anticorpos. E não são poucos.
Quanto à produtividade, está bom de ver que o efeito é como um “bumerangue”. Com o risco de, na volta, bater na cara do lançador.
Silvestre Félix