Em tempos que já lá vão, era eu ainda um jovenzinho, quando, numa visita regular à livraria da esquina, o meu amigo livreiro me aconselhou levar um livro que não tinha à mostra mas que, garantia, iria ler com interesse e, após, ficaria a saber mais alguma coisa. Escusado será dizer que lá vieram as habituais dicas. Não mostrar a ninguém, quando andar com ele, por exemplo, para ler no comboio, ter o cuidado de o forrar de modo a não se perceber o título, etc., etc. O livro era, nem mais nem menos, que “O princípio de Peter” de Laurence Peter e Raymont Hull.
O meu amigo livreiro tinha toda a razão. Aprendi muito com a leitura do dito e, ao longo da minha vida, têm sido inúmeras as situações reais do dia-a-dia que se encontram assinaladas no livro.
Como agora se diz, há uma linha que separa a competência da incompetência e toda a gente devia perceber onde ela está. O problema é que não é fácil e, pior do que isso, poucas pessoas têm consciência de que essa linha existe.
A propósito dos (des)governos que temos tido nos últimos tempos, perguntava um aluno de Laurence Peter numa das suas aulas:
– «Professor Peter, receio não encontrar resposta para o que pretendo saber, por mais que me esforce a estudar o assunto. Não sei se o mundo é governado por homens inteligentes que fingem perante nós, ou por imbecis que realmente mostram que o são.»
Passados mais de quarenta anos desde que esta pergunta foi formulada ao Professor Peter, continua perfeitamente atual e ainda nenhum tratado de ciências sociais ou políticas conseguiu encontrar uma resposta concreta para esta pergunta que
«resume os pensamentos e sentimentos que têm sido expressos por muita gente.»
Silvestre Félix
(Gravura: Capa do livro digitalizada. «» extraído do livro citado. Antiga editorial Futura em 1973)