Otelo Saraiva de Carvalho declarou ontem à Lusa;
«…que hoje em dia não faria a revolução, se soubesse que o país iria estar no estado em que está.»
Não concordo em absoluto com uma afirmação deste tipo. Tenho grande admiração por Otelo e ainda hoje acabei de ler o seu último livro que me enriqueceu o conhecimento sobre o que se passou naquele dia 25 de Abril de 1974.
A Revolução dos Cravos, que Otelo coordenou em termos operacionais, alterou muita coisa que não tem rigorosamente nada a ver com a situação económica e financeira que hoje se vive em Portugal – Fim da Guerra Colonial, final do império com a independência das colónias e fim da opressão e domínio de outros povos, desmantelamento do Estado fascista com o fim da censura e polícia política, instauração das liberdades individuais e coletivas e institucionalização do Estado democrático em todas as suas vertentes, etc., etc.
Otelo Saraiva de Carvalho sempre nos foi habituando, nestes 37 anos, a alguns “pronúncios” polémicos. O seu voluntarismo e a sua espontaneidade têm sido suficientes para desculpar uma ou outra “tirada” mais a despropósito, mas esta é de “bradar aos céus”. Ainda assim, Otelo tem de continuar a ser polémico senão deixa de ser autêntico. Com certeza foi levado pela revolta, que é comum a grande parte dos portugueses neste momento, mas, relendo as suas próprias declarações, já terá concluído que não era bem aquilo que queria dizer.
Um destes dias falarei aqui do seu livro “O Dia Inicial”, que vem mesmo a calhar neste mês de Abril.
Silvestre Félix