Pela abordagem de inúmeros fatos reais, embora encaixados na trama ficcionada que José Rodrigues dos Santos construiu, pela reflexão e interpretação que as principais personagens dão aos acontecimentos, pela caracterização que faz da sociedade portuguesa e dos portugueses em Portugal e nas Colónias, pela descrição de tantas contradições na atuação no terreno dos vários ramos das Forças Armadas e, dentro destas, sendo tropas especiais ou não, por tudo isto e com certeza por muito mais, este romance é um autêntico documento histórico.
Li todos os romances de José Rodrigues dos Santos e identifico-me muito com a sua escrita. Tal como já aconteceu com a “Filha do Capitão”, inspirado na experiência contada e recontada de seu Avô paterno que tinha participado na Guerra de 1914-1918, também no “Anjo Branco” se inspirou num familiar e aqui, muito mais perto, no seu próprio Pai. Ele próprio terá convivido com parte do ambiente à época. Decerto resguardado dos acontecimentos, mas, revisitando esses tempo, naturalmente reconstituiu na memória alguns fatos.
A denúncia do massacre de "Wiriyamu", que precedeu a famosa visita de Marcelo Caetano à Inglaterra onde até tomates podres lhe atiraram, que os da minha idade ou mais velhos se lembrarão, foi um tempo de muita pressão internacional sobre o regime da ditadura em Portugal. No romance está bem demonstrada a sanguinária conceção de guerra que as tropas especiais de Comandos tinham. Eles eram um dos lados negativos da presença colonial portuguesa em África. Também havia lados bons. Como o “Anjo Branco” outros houve que contribuíram honestamente para o bem-estar e melhoria das condições de vida de Moçambicanos, de Angolanos, Guineenses e todos os povos colonizados pelos portugueses.
A edição é da “Gradiva” e a primeira em Outubro de 2010. O título tem estado estes meses todos no “top ten” de vendas, passando pelo primeiro lugar muitas semanas.
Silvestre Félix