A volta das voltas. Chegamos, partimos e lá voltamos sempre!

28
Fev 11

A ausência de partilha e descentralização do poder é a grande falha do nosso regime democrático. Está aqui, nesta constatação, provavelmente a razão mais consistente para justificar o nosso fracasso económico como País e o consequente abandono de vastas zonas do interior de norte a sul do território.

 

Mais uma vez encontramos a responsabilidade da situação, nos partidos no arco de poder. Têm querido manter, por todos os meios, a exclusividade do governo centralizado. Não nos esqueçamos que mesmo no ano em que Guterres levou a regionalização a referendo, uma parte considerável do PS e do Governo, não estava com o sim.

 

Não restarão muitas dúvidas que o atual modelo económico está esgotado e, qualquer que seja a alternativa vai necessariamente passar pela regionalização. Não percam tempo com referendos, mapas polémicos e artificiais e considerem como aceitáveis as cinco regiões-plano existentes: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.

 

Eu não fiquei nada admirado com a retirada da regionalização da agenda de Sócrates. Tem tudo a ver com o homem e com a postura do Governo. O PS já tinha muitos problemas para resolver e agora tem mais outro porque a questão não é pacífica, é mesmo fraturante.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 17:48

27
Fev 11

A mim, o que me sabia mesmo bem era o bitoque. Havia dias que escolhia outra coisa só para variar, nunca para substituir o bitoque. Sai um bitoque especial! Gritou o Marinho para a cozinha. Acompanhava com uma imperial especial de corrida tirada pelo António que, naquela 5ª feira, e desde que me sentei ao balcão há um quarto de hora, já discutiu com o Chico aí uma dúzia de vezes.

 

Ao meu lado direito, estava o Artur Caparica que continuava preocupado com a sensação de andar a ser seguido por um gajo de fato e chapéu de abas. No mesmo dia de manhã, sem ninguém por perto, tinha-me contado que, com um primo, estava a pensar dar o salto para França para não ir à tropa. Deu-me a entender ter a certeza de não querer ir para a Guerra e, a única solução, era pirar-se daqui para fora.

 

À luz daquela janela do terceiro andar, li no Diário de Notícias que, amanhã, num qualquer dia e mês de 1973 mas de certeza a uma 6ª feira, levantaria ferro do cais da Rocha Conde de Óbidos o navio “Niassa” com militares portugueses com destino a Moçambique. Acrescentava ainda a notícia que, "a defesa daquela parcela do território nacional, como o iam fazer estes valorosos soldados, sargentos e oficiais, era um desígnio patriótico a que nenhum português se pode furtar”.

 

Os sucessores do “botas” continuavam fiéis aos seus ensinamentos.

 

Na 6ª feira o Caparica não apareceu ao trabalho e o mesmo aconteceu na semana seguinte. Da janela do terceiro andar, olhando para Cacilhas e Almada, tentava imaginar o que lhe teria acontecido. Estará na cidade luz? Terá corrido tudo bem?

 

Verão de 2010 longe daquela janela do terceiro. De dentro dum Mercedes 280, saiu o tal gajo de fato e chapéu, agarrou-me e atirou-me para o banco de trás onde estava outro. Arrancaram em velocidade moderada, subiram a rua do Alecrim, viraram à direita para o Chiado e meteram pela rua António Maria Cardoso. Percebi que estava na pide. Perguntas e mais perguntas, sem dormir, bom, o resto já se sabe. Pareceu-me que se passou dois dias e Caxias a seguir. Seis meses depois assentei praça e mais sete meses, estava na Guiné. Foi uma mina anti-pessoal e um trambolhão na vida.

 

Era quase uma hora e o “Califórnia” estava a encher. Ao balcão já não havia lugares vagos e as mesas estavam todas ocupadas.

 

(Nomes e situações ficcionadas)

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 16:20

26
Fev 11

Os povos do Magrebe vão continuar a não dar descanso aos ditadores. A situação na Líbia é explosiva e está à beira de um banho de sangue porque o coronel, filhos e seguidores, escolheram o pior caminho para responderem aos contestatários.

 

Khadafi está a reafirmar-se como um verdadeiro sanguinário. Já se conhecia a sua índole mas, o ocidente readmitiu-o na roda de interlocutores a pretexto da sua suposta postura anti-Bin Laden.

 

A incerteza do que se vai passar nos próximos tempos em toda a região, está a criar uma nova ameaça para a Europa. É previsível que se desenvolva uma ou várias correntes de imigração nos países costeiros do Mediterrâneo com proveniência de todo o Magrebe, com todas as consequências que daí advêm.

 

Os tempos não vão melhorar. A Europa continua a não estar preparada para responder a estas contrariedades. Cada obstáculo que surge, mais se percebe que a Europa unida é uma miragem.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 20:02

25
Fev 11

O José Alberto Carvalho e a Judite de Sousa são dos melhores profissionais da nossa comunicação social. A RTP perdeu-os. Principalmente o JAC, desde que tomou posse como diretor de informação, nunca mais lhe deram tréguas sobre os tempos de imagem e notícia atribuídos aos partidos da oposição. Um profissional deste gabarito deve ter mais com que se preocupar. Não pode estar sujeito à contagem dos minutos de uso do ecrã que o aparelho deste ou daquele partido fez.

 

O constante escrutínio a que estes profissionais na RTP são submetidos, é incompatível, numa grande parte das vezes, com o exercício da profissão.

 

 Ainda por cima, num destes dias, os seus ordenados e subsídios, apareceram esparramados na imprensa. Como se nas concorrentes privadas os ordenados não fossem iguais ou ainda maiores.

 

A RTP fica mais pobre e, neste caso, a TVI melhora significativamente.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 20:57
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24
Fev 11

 

“A Casa-comboio” de

Raquel Ochoa

 

A jovem escritora Raquel Ochoa, vencedora do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2009 instituído pela Estoril-Sol, conseguiu, através do seu primeiro romance – A Casa-comboio, prender-me à genial narrativa do princípio ao fim.

 

Independentemente da qualidade da escrita, o romance, que é histórico, dá a conhecer uma parte importante da nossa história materializada no conhecimento do epílogo do Estado Português da Índia. Na verdade, em 1961, os acontecimentos e os pormenores da entrada da União Indiana em Goa, Damão, Diu e Nagar-Aveli, nunca foram revelados ao povo português. A forma como as coisas aconteceram estão bem ilustradas nesta obra, embora o livro não se detenha duma forma principal nesta questão.

 

Raquel Ochoa conta a saga da família Carcomo ao longo de 4 gerações desde 1885 em Damão, até 2001 em Portugal. Pelo meio, a autora mostra-nos pela escrita os locais onde, através dos tempos, se desenrolam todos os momentos, bons e maus, desta família, desde Honorato, um filho Rudolfo, um neto Baltazar, uma bisneta Clara e todos de apelido Carcomo.

 

Raquel Ochoa nasceu em 1980 em Lisboa. Começou por escrever crónicas de viagens em resultado das suas reportagens e, à Índia, já foi mais de uma vez.

 

Edição da Gradiva e a primeira em Março de 2010.

 

Silvestre Félix

 

(Imagem: Cartaz com a capa do livro do blogue da autora)

publicado por voltadoduche às 21:31

23
Fev 11

 

Zeca Afonso é a melhor tradução da luta pela democracia no nosso país.

 

As suas composições e a passagem da mensagem através da sua voz foram, durante os últimos anos de ditadura e primeiros da democracia, a forma mais genuína e verdadeira de mobilizar os portugueses para a criação duma sociedade mais justa.

 

José Afonso morreu há 24 anos, a 23 de Fevereiro de 1987. Passado todo este tempo, não nos podemos admirar com o ressuscitar de algumas das suas obras porque as palavras escritas há 40 anos ou mais, estão atualizadíssimas.

 

Naturalmente que do ponto de vista ideológico, Zeca Afonso sempre se identificou com uma esquerda que ele fazia questão de afirmar, independente. Tinha opiniões muito próprias e nunca se submeteu à disciplina de nenhum partido.

 

Durante a ditadura a pide não lhe deu descanso. Muitas das suas canções ou não chegavam a ser publicadas ou, se o eram, em pouco tempo a censura dava o dito por não dito, e vinha a proibi-las mais tarde.

 

Em 1974, os Capitães de Abril viriam a escolher uma das suas composições, a “Grândola Vila Morena” para senha do arranque das operações que viriam a derrubar a ditadura no nosso país.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 22:37

22
Fev 11

 

As emoções e as paixões que um jogo de futebol comporta, estão muito para além do que é razoável para um normal ser humano.

 

Todos nós devíamos ter capacidade para repelir o que é mau, nem que para isso o corpo tivesse de estar equipado com uma espécie de alarme. Esse acessório, sempre que houvesse perigo dum desentendimento, desataria num berreiro tal, que, automaticamente, desativaria a má onda e tudo voltava à paz.

 

Ontem, assistimos mais uma vez a tudo o que de pior nós transportamos. Não interessa se foi em Alvalade ou na Luz. Foi num jogo de futebol. Ouvindo as duas partes em confronto – a polícia e os adeptos – não conseguimos chegar a nenhuma conclusão sobre quem não fez o que devia fazer.

 

Um Estado civilizado não pode admitir que situações destas aconteçam. Em cenários como os de ontem, as regras devem ser claras e aplicadas aos prevaricadores duma forma sumária e sem contemplações.

 

Temos muitas outras coisas que nos preocupam, não podemos gastar energias com razões comezinhas e fanatismos primários.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 21:57

21
Fev 11

 

Notícias vindas hoje a público dão conta que as faturas de consumo de água que não sejam pagas dentro do prazo, passarão de imediato para a situação de execução fiscal em vez da habitual cobrança de juros.

 

Quando isto acontecer, a execução fiscal traduzir-se-á numa duplicação do valor da fatura. A medida é justificada pelo escrupuloso cumprimento da Lei do Orçamento de Estado de 2011.

 

Seja por causa do orçamento, seja pelo que for, a ser verdadeira esta notícia, ela traduz bem o desprezo que as entidades responsáveis demonstram pelos cidadãos deste país.

 

São muitas as razões que podem levar um consumidor a não pagar a fatura da água dentro do prazo. Algumas serão merecedoras de punição, mas haverá outras que atravessam toda a população, que são perfeitamente justificáveis e não podem ser ignoradas por quem exerce o poder.

 

Se isto for verdade, é terrorismo de estado no seu melhor estilo!

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 16:48
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20
Fev 11

Desde este Sábado que as televisões, repetidamente, passam imagens da catástrofe de há um ano na Madeira. Têm passado também reportagens feitas esta semana, com participação de madeirenses que viveram os acontecimentos. Dá para ver que alguns dos entrevistados têm muita dificuldade em falar do assunto mas, duma forma geral, o repórter não desiste.

 

Acho dum mau gosto terrível, voltar a passar imagens de hora-a-hora, sem que as mesmas sirvam para suportar qualquer tipo de notícia.

 

É legítimo que se assinale a passagem dum ano sobre as cheias na Madeira mostrando o que se já se fez, o que se recuperou e o que falta. Também é normal que se fale do que não tem corrido bem e que se apele às autoridades competentes.

 

É incrível como o que vemos nas televisões, tem muito mais a ver com as percentagens de audiência e share do que o interesse do telespectador e da população em geral.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 16:15

19
Fev 11

A liberdade de expressão é a coluna vertebral da democracia como nós a entendemos. Da mesma forma que só nos lembramos do ar que respiramos quando, por qualquer razão, nos falta esse bem essencial, também a liberdade de expressão incondicional é encarada e assumida duma maneira natural, quando não se vive em ditadura como acontecia em Portugal antes de 25 de Abril de 1974.

 

No entanto, como em tudo na vida, devemos saber usar as ferramentas que temos e, acima de tudo, quando envolvemos outras pessoas, instituições, etc.,. No âmbito político, é frequente ouvirmos referências de uns políticos a outros, que roçam o insulto mas, se duma vez acontece com um, doutra acontece ao contrário e eles lá se entendem. Gostam e aceitam insultar e ser insultados.

 

Fora da classe política, designadamente no mundo empresarial, é normal assistirmos a alguma diplomacia quando se fala do Governo, de membros do Governo ou até da oposição. As pessoas manifestam-se igualmente mas, porque representam empresas ou associações empresariais, habitualmente não pessoalizam as apreciações que fazem. Como as excepções confirmam a regra, também nesta área, as há.

 

Neste Sábado, o líder o grupo “Jerónimo Martins”, que é a cara de muitas empresas cá e lá fora, patrão de muitos milhares e fornecedor de bens essenciais de muitos milhões de portugueses, referiu-se ao “Sócrates”duma maneira pouco apropriada, roçando mesmo níveis muito baixos de educação.

 

Hoje, decerto existe uma maioria de portugueses que não morre de amores por José Sócrates, que ficaria contente de o ver “pelas costas”mas acontece que ele ainda é o Primeiro-Ministro de Portugal e o “Sr. Pingo Doce” tem obrigação de se lembrar disso.

 

O sr. pode dormir num colchão com molas de ouro, em vez de papel higiénico, pode usar rolos de notas de 500 euros, mas isso não lhe dá o direito de se esquecer o que é a boa educação.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 18:04

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