É comum ouvir dizer-se que, se Sá Carneiro não tivesse morrido naquela altura, hoje, não estaríamos neste poço sem fundo.
Podia ter acontecido e com estes pressupostos pode especular-se até onde a imaginação nos levar, mas é impossível saber se teria sido assim, e, os que o dizem, muitas vezes só pretendem justificar as suas fraquezas.
Francisco Sá Carneiro ficará na história do nosso País como Grande português. Quis o destino que a sua vida terrena fosse curta, mas, mesmo assim, deu muito a Portugal e aos portugueses.
Foi na política que se destacou, ainda antes de 25 de Abril de 1974, e estavam criadas todas as condições – quando aconteceu Camarate – para assumir por inteiro a sua parte na recuperação de Portugal em direção à democracia consolidada.
Foi corajoso, quando aceitou o convite de Marcelo Caetano e, com outros adeptos do sistema democrático, assumiu a chamada “Ala Liberal” da União Nacional na antiga Assembleia Nacional. Foi corajoso porque acreditou nas boas intenções do sucessor de Salazar, e também o foi ainda mais quando decidiu bater com a porta, em virtude das promessas “primaveris” do regime, não passarem afinal de um bem preparado embuste.
A sua postura depois de Abril, com a criação do antigo PPD e entrega de corpo e alma à vida política portuguesa, com todos os seus rasgos inconformistas, algumas vezes até contra a sua família partidária, arrastou multidões de apoiantes que nele confiaram e que o acompanharam até à queda do “cessna”, no final da pista no aeroporto de Lisboa, naquele dia 4 de Dezembro de 1980 quando, em mais uma ação da campanha presidencial de Soares Carneiro, se dirigia ao Porto.
Morreram todos os ocupantes, entre eles, o Ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa, dirigente do CDS.
As dúvidas que persistem quanto às causas do desastre, são uma grande mancha negra que paira sobre a polícia de investigação e o sistema judicial português. Finalmente, no primeiro semestre de 2011, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem vai pronunciar-se sobre o “caso Camarate”. No âmbito político, também as inúmeras Comissões de Inquérito Parlamentar nunca resolveram o que há trinta anos é reclamado: A verdade!
SBF
(Imagem: Sá Carneiro - Wikipédia)