Entretanto passava da meia-noite, já era 27 de Novembro de 1975. Na secretaria da CCS, toda iluminada, já estava o 1º Sargento Pereira a tratar da papelada, que, neste caso, era um passaporte de dez dias para cada um. A confusão era grande. Na maior parte dos militares persistiam dúvidas sobre a facilidade da passagem à reserva. João, junto dos seus melhores amigos, levantava exatamente essa questão. O “estado de sítio” ainda estava em vigor, como é que era possível o 1º Pereira estar a garantir que íamos sair do quartel durante a noite?
À entrada das 3 companhias formaram-se bichas pirilau e, à vez, de dentro das secretarias, iam chamando os números de cada um. Era mesmo verdade, estavam a entregar passaportes individuais de dez dias e a comunicar que o espólio deveria ser feito na Unidade, a partir do dia 2 de Dezembro e até ao último dia de validade do passaporte.
O Vilaça apreciava o movimento de lado, mas muito apreensivo com o que se ia passar com ele nos dias seguintes. Já tinha sido chamado e dito que ia ficar até ao fim do seu tempo previsto que era o final do ano. O Mata e o Albertino vinham na direção do João para lhe mostrarem o passaporte, quando o 1º Sargento Pereira gritou o seu número. Lá foi confirmar que ia para a disponibilidade e, aproveitando, perguntou ao 1º em que situação é que estava a obtenção da carta de condução civil, uma vez que a tinha requerido de acordo com o regulamento em vigor. O Sargento procurou… procurou e, numa exclamação recheada de sonoridade: “AHHH! Ora cá está o processo, muito bem… mas agora já não serve para nada!” E, num gesto rápido e enraivecido, rasga em oito bocados, a capa do processo com os papéis que tinha dentro, atirando tudo para o lixo.
João e os outros militares que ali estavam ficaram a olhar para o homem, completamente transtornado, sem perceberem o que lhe passou pela cabeça. Não disse mais nada, entregou o passaporte ao João, disse-lhe que tinha que fazer o espólio até ao décimo dia a partir do dia 2 de Dezembro, mandou-o sair e esperar até o voltarem a chamar. João ficou atordoado com a cena mas, porque o mais importante não era a carta de condução, saiu para a rua e foi ter com o Albertino, com o Mata e com o Cruz, que vinha já despachado da secretaria-geral. Tema de conversa não faltava.
(Continua)
(Partes do escrito “25 de Novembro do ano do PREC” de Silvestre Félix)
(Baseado em fatos verdadeiros com nomes e situações ficcionadas)
SBF