Saiu do quartel com mais dois colegas numa “Mercedes benz” de caixa aberta ainda não eram 8h. Era a sua vez de ir à manutenção buscar os mantimentos do dia.
Quando regressou, uma hora depois, o pessoal de serviço não era o mesmo e estranhou. A formatura era só às 10h porque é que mudaram mais cedo? Ainda estranhou mais quando olhou com mais atenção e reparou que não havia milicianos com braçadeira, estavam todas mas “mangas” de sargentos e até o oficial de dia era do quadro.
João estava escalado para entrar de serviço às 10h mas, numa consulta rápida, logo viu que já não constava. Melhor assim, pelo menos podia dormir descansado à noite.
Por volta das 9h30, ouviu-se o toque para formatura geral. Cinco minutos depois o quartel estava todo na parada em formatura. Correspondendo aos comentários que já tinha ouvido, João viu sair do edifício do comando um Tenente-Coronel com a farda cinzenta, ladeado pelo Major, antigo Segundo-Comandante e um Capitão também antigo.
Estava percebido que o nosso (antigo) Comandante, já era. João Marques, conversando com os seus botões, tentava perceber se seria melhor ou pior. Para ele, tudo o que correspondesse a mais militarismo, era mau. Rapidamente as suas dúvidas foram esclarecidas pelo discurso do novo Comandante.
Apresentou-se como novo Comandante da Unidade nomeado pelo Estado Maior por indicação do "Grupo dos Nove". Pediu a nossa adesão à nova ordem e prometeu tratamento adequado à situação. Justificou a substituição do anterior Comandante por ele não querer aderir à nova cadeia de Comando. Aplicou-se com um discurso de moral militarista, dando como exemplo a seguir e traçando-lhe rasgados elogios, o Regimento de Comandos que, como se sabia, era a ponta de lança do “Grupo dos Nove” e adversário primário dos “páras” e do COPCON.
Continuou, sublinhando o carácter definitivo das decisões tomadas que vão no sentido de melhorar a vida na Unidade. Afirmou ainda que o novo Comando ia impor as suas regras, ficando no entanto, para saber, até ao dia seguinte à mesma hora (25 de Novembro), se as aceitamos ou não. Se sim, tudo normal e a vida continua, se não aderíssemos, ou relativamente a quem não aderisse, que se comprometia a tratar rapidamente da passagem à disponibilidade sem aplicação de qualquer penalização ou castigo.
Esta “zona” do discurso agradou ao João. “Passagem à disponibilidade!”
Difícil de acreditar assim, com tanta facilidade mas, havendo essa possibilidade, é a que mais interessa a João.
SBF
(Texto extraído do escrito “25 de Novembro do ano do PREC” de Silvestre Félix)
(Baseado na realidade, com nomes e algumas situações ficcionadas)