Há cinco dias que João Marques não ia a casa e só saía do quartel em serviço. Estávamos a 24 de Novembro de 1975, Segunda-Feira.
João estava a par das novidades pela rádio e televisão da sala de Sargentos. Calculava que a qualquer momento a situação podia piorar. A posição rebelde e inflexível dos “Para-quedistas” incendiava o País. Já era muito claro quem estava com quem. Desde o fim-de-semana que várias organizações populares, como comissões de moradores e de trabalhadores que, duma forma completamente irresponsável, começavam a abancar à porta dos quartéis afetos ao COPCON, pedindo e, nalguns casos exigindo, armas. A nossa Unidade não estava com o “Grupo dos Nove” e, já no Sábado, se percebeu que o Comandante estava inseguro relativamente à sua permanência aqui no Regimento e, por outro lado, à continuação da existência do COPCON e ao destino do seu Comandante.
Nada disto agradava a João. Por um lado, nunca quis, não queria nada com tropa. Detestava farda, armas, tudo o que fosse militar. Só assentou praça porque foi obrigado. Por outro lado, o perigo de haver confronto com armas assustava-o muito. Era pacífico dos quatro costados e não admitia, contrariando muito a onda e o ambiente do PREC, qualquer tipo de violência. Ainda ficou pior porque uma das irmãs foi ao quartel saber como ele estava e ver se precisava de alguma coisa. Preocupação natural da família. Para quem ia todos os dias a casa, estar cinco dias sem aparecer não era pacífico.
SBF
(Continua)
(Texto extraído do escrito “25 de Novembro do ano do PREC” de Silvestre Félix)
(Baseado na realidade, com nomes e algumas situações ficcionadas)