A volta das voltas. Chegamos, partimos e lá voltamos sempre!

12
Dez 12

A, Mário Soares, já não se lhe acrescenta elogios nem méritos porque se escala houvesse sido constituída, já teria “rebentado”, mesmo descontando defeitos e desmerecimentos que também os tem.

 

Reconhecida a excelência da criatura como selo validador do atrevimento da minha opinião, embrulhou-se-me as tripas ouvindo o senador afirmar tamanho erro de perceção;

 

“nem no tempo de Salazar” o “Governo foi tão odiado”


A reação intestinal foi vigorosa e tem a ver com o fator “surpresa”. É normal escutarmos comentários deste tipo em pessoas mais jovens que não viveram no período da ditadura mas ao ex-presidente, nunca pensei ser possível.

 

Decerto Mário teve “uma branca”!


Salazar tinha a funcionar o aparelho da ditadura com um protagonismo destacado da pide, da censura, da repressão duma forma geral, sem oposição no pseudo-parlamento e com a propaganda bem afinada e sincronizada aos desígnios do regime,

 

ou seja, naquele tempo, que Mário Soares tão bem conheceu e sofreu, não havia meio de fazer a medição do ódio que os portugueses tinham pelo Governo.


Este tipo de abordagem e comparação é muito perigosa e o senador, melhor que ninguém, devia saber isso.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 17:25

23
Abr 12

O mapa da “Índia Portuguesa” iria permanecer junto dos outros que representavam todos os cantos do “império”, na sala de aulas da minha escola primária por muitos mais anos, mesmo depois de 18 de Dezembro de 1961, dia em que os territórios de Goa, Damão e Diu foram anexados pela União Indiana.

                      

O romance histórico, “A primeira derrota de Salazar” de Paulo Aido, conta-nos o que se passou naqueles últimos dias de 450 anos de soberania portuguesa em Goa. Trata-se duma narrativa cronológica que retrata bem a irredutibilidade de Salazar em negociar uma saída honrosa e vantajosa para todas as partes.

 

O que Salazar queria, para o poder exibir ao mundo, era o massacre dos 3.500 militares e, se possível, de mais alguns milhares de civis. Felizmente, na Índia, o Governador Vassalo e Silva teve o bom senso e a sabedoria de o evitar.

 

Paulo Aido é jornalista de profissão e a edição é de “Zebra Publicações” e a primeira em Novembro de 2011.

 

Para enquadrar, do ponto de vista histórico o romance, consultei com regularidade, “Xeque-mate a Goa” de Maria Manuel Stocker numa edição de 2005 da “Temas e Debates”. Há uma nova edição da Bertrand de 2011. Para quem se interesse por esta temática (Ex-Índia Portuguesa) ou, duma forma geral, pela política colonial de Salazar, aconselho vivamente este ensaio de Maria Stocker.

 

Enquanto li “A primeira derrota de Salazar” também mantive “à mão” outro retrato do ditador, “Salazar o ditador encoberto” de António Simões do Paço, edição da Bertrand de 2010, que me ajudou a considerar toda a abrangência daquela época tão “quente”. Em 1961 começava também a guerra em Angola e a ditadura de Salazar era, finalmente, condenada em todos os areópagos internacionais.

 

Silvestre Félix


04
Fev 11

Com o assalto à prisão de S. Paulo em Luanda, durante a madrugada de 4 de Fevereiro de 1961 – fez nesta Sexta-feira 50 anos – e a consequente libertação de presos políticos ali detidos pelo regime colonial, tem, para todos os efeitos, início, a Guerra Colonial. A ação foi reivindicada pelo MPLA e resulta na morte de alguns polícias e do corpo assaltante.

 

Salazar, ainda mal refeito com o desvio do paquete Santa Maria, perpetrado pelo Capitão Henrique Galvão e com grande impacto em Portugal e no estrangeiro, preferiu continuar a assobiar para o lado e, na onda do “orgulhosamente só”, ignora todos os avisos, ignora a história e a comunidade internacional, decidindo lançar as forças vivas do País numa Guerra fratricida, dada a afinidade irmanada de tantos séculos de convívio com as populações africanas. Guerra injusta para os africanos e para os portugueses mas, para Salazar, a permanência no poder e em ditadura, era mais importante do que os valores progressistas e humanistas.

 

A pressão contra o regime de ditadura e colonial português aumenta, com o Conselho de Segurança das Nações Unidas a aprovar moções contra Portugal e, a 15 de Março do mesmo ano de 1961, um grupo de guerrilheiros da UPA de Holden Roberto, começa a atacar fazendas e postos administrativos no norte de Angola. Definitivamente, instalava-se a Guerra. O regime colonial continuava a não dar mostras de querer negociar com os Movimentos de Libertação. Refira-se que, nesta fase, Portugal mantinha-se como último País europeu com colónias em África. Todos os outros: Inglaterra, França, Alemanha e Bélgica, após o fim da Segunda Guerra Mundial, começaram a negociar as independências das suas colónias e, em 1961, (exceção para a Argélia, com outros contornos e em Guerra com a França, só seria independente em 1962) já eram novos Países ou estavam em vias disso.

 

Salazar, depois de se livrar dos opositores em Portugal, com a PIDE mais ativa do que nunca e a desmantelar o golpe do “reformista” de regime, Botelho Moniz, continua a não perceber a história e, no famoso discurso à Nação em Abril de 1961, no que respeita à Guerra Colonial, só tem uma coisa para dizer: «Para Angola, rapidamente e em força».

 

Resultado instantâneo desta ordem do ditador: Regimentos completos de militares são mobilizados para combater os Movimentos de Libertação em Angola e, nos anos seguintes, na Guiné e Cabo Verde, Moçambique e em Timor. Estava em marcha a maior “negação” da história, de que há memória.

 

4 de Fevereiro de 1961 é marcante para os angolanos, para os PALOP’s e para todo o continente africano, mas também para os portugueses.

 

Foi o início do virar da página colonial. Foi o começo do fim da ditadura em Portugal.

 

Na coluna do crédito, fica a haver um preço muito alto pago por todos os povos que sofreram pelos erros dos nossos governantes.

 

Silvestre Félix


15
Dez 10

 

Olhando pela janela do terceiro andar em dias de luz lisboeta intensa de Primavera prometida, conseguia medir o tempo em horas, marcando, em linhas verticais, a passagem do Sol. Primeiro de manhã, beijando o estuário do Tejo começando pelo Mar da Palha até à direção de Cacilhas, depois, por cima das águas-furtadas e, por último e pela direita, lá se escondia atrás dos prédios.

 

Na janela do terceiro andar, ouvindo o “telim-telim” do amarelo que subia e descia a do Alecrim, sentindo e adivinhando os idos e entrados no Bragança, o meu peito ofegava e enchia-se de luz porque a Primavera ainda podia vir. O “Cacilheiro” que vem e a “Falua” que vai, completam a cena da tela cheia de cor e vida prometida.

 

Até o da Terceira que era Duque e antes de Vila Flor e se empenhou na empresa para recuperação da Constituição Liberal de 1822 em nome do Regente, Imperador dos Brasis e Rei de Portugal batizado de Pedro umas vezes primeiro outras quarto, mas sempre o mesmo, até esse… naquela posição de combatente depois da miguelada e vilafrancada absolutista e reacionária. Até ele teve a sua Primavera e admira e é admirado por todas as janelas da Praça e também pela do terceiro andar.

 

Até o Bernardino Costa, herói Bombeiro da Cidade e, por isso, com muita coragem, consegue abraçar o bom, o mau e o assim-assim, destes quarteirões, das gentes em vai e vem p’rós lados dos “pouca-terra, pouca-terra” mais o Tejo que corre sempre cheio depressa na vazante, não vá a Primavera chegar, até para lá de Belém e de Pedrouços até à Barra depois de passar o Bugio.

 

À mesma hora, diziam que o ditador de botas estava a dar o último suspiro!

 

No terceiro andar, pela janela virada ao Sol, eu, por momentos, horas e dias, acreditei que era Primavera, mas não veio, ficou ainda Outono e Inverno durante muito tempo contado em anos… E os lenços brancos continuaram a acenar…a acenar…e a multiplicarem-se sem parar…acenavam, acenavam e foram… e mataram e morreram!

SBF Silvestre Félix

 

(Imagem: Desembarque de militares portugueses em Luanda-1961. Internet)


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