A volta das voltas. Chegamos, partimos e lá voltamos sempre!

26
Set 13

A propósito da deliciosa leitura do “Cafuné” de Mário Zambujal que trata de alguns episódios caricatos antes, durante e após a partida da família real para o Brasil em finais de 1807 na sequência da primeira invasão francesa, fui buscar à prateleira o “1808” de Laurentino Gomes.

 

 

Desfolhei o livro de Laurentino e detive-me em alguns capítulos tentando estabelecer ligações com o País de hoje, duzentos e poucos anos depois. Quando o li pela primeira vez em 2008 parecia-me estar a conhecer a história de um outro Portugal ou, pelo menos, de há muitos mais séculos para trás. Mas não, tratava-se de um Portugal tão próximo que muitos problemas subsistem até hoje. O destino do nosso País em 1807 era ser protetorado de uma de duas potências estrangeiras – França de Napoleão ou Inglaterra. A família real quando partiu levou tudo incluindo o tesouro. Os portugueses ficaram sem “um tostão furado ao meio” – literalmente na bancarrota. Era o princípio de um ciclo de miséria no nosso País.

 

Neste início do século XXI somos protetorado outra vez. Agora de uma maneira mais sofisticada porque os “conquistadores” não se apresentam de armadura e espada à cinta. Como há duzentos anos, também estamos entre a “madrasta europa” e o caminho dos oceanos. Descontando o facto dos oceanos já não nos transportarem aos quatro cantos do império, acho eu que sempre será melhor navegarmos ativamente no espaço da Lusofonia do que continuarmos a ser espezinhados, humilhados e roubados.

 

Mário Zambujal, jornalista, cronista e escritor nasceu em Moura em 1936, trabalhou em vários jornais de Lisboa, na RTP e tem escrito obras sempre com grande sucesso. O seu livro mais conhecido é a “Crónica dos Bons Malandros” escrito em 1980. Esta história foi adaptada ao cinema por Fernando Lopes e, recentemente, ao palco num musical de Francisco Santos e o próprio Mário Zambujal. Este “Cafuné” é muito engraçado e recomendo vivamente a leitura. Edição do “Clube de Autor” em Outubro de 2012.

 

Laurentino Gomes é brasileiro. Nasceu em 1956, é jornalista formado e com várias pós-graduações e cursos no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Tem trabalhado nos principais órgãos de informação do Brasil tendo investigado e escrito duas obras superiores sobre a chegada da corte portuguesa ao Brasil, sua permanência, regresso a Portugal e os primeiros anos de independência do Brasil – “1808” e “1822”. Para percebermos melhor quem somos e qual é o nosso “fado”, aconselho a leitura destas duas magníficas obras. 1ª edição (1808) pela Dom Quixote em Janeiro de 2008 e 3º edição BIS (bolso) em Setembro de 2011.

 

 

26 de Setembro de 2013

Silvestre Félix


20
Abr 13




“A 10 de Dezembro de 1992, sem qualquer pressão internacional e sem nenhum exército inimigo às portas de Lisboa, a Assembleia da República aprovava o Tratado de União Europeia. (…) Foi a maior capitulação do País desde as cortes de Tomar de Abril de 1581 (…) ” «João Ferreira do Amaral, in introdução»


A leitura deste extraordinário ensaio de João Ferreira do Amaral é essencial para percebermos o erro capital que a elite política portuguesa cometeu, ao ter abdicado de boa parte da nossa soberania, oferecendo a moeda e o poder de a emitir quando dela precisássemos, aos novos conquistadores que se vinham instalando e implantando.   

 

João Ferreira do Amaral, desde que a ideia da moeda única vingou, alertou muitas vezes para a tragédia que aí viria se, o que era só “ideia”, alguma vez se viesse a concretizar. Ninguém ou muito poucos lhe deram ouvidos e o tempo passou. Infelizmente tinha razão. A ferramenta mais importante para evitar problemas financeiros do Estado e para fazer recuperar a economia, já não a temos – a nossa moeda!


Ao mesmo tempo alguns, (in) parceiros da nossa (des) união, emprestam-nos dinheiro a juros altíssimos enquanto eles se financiam a juros negativos. Com uma prática mais comum entre a agiotagem, poem-nos à míngua e passam de três em três meses para cobrarem a “quota”. Com amigos assim…

 

Do absurdo às razões de esperança: Novas alianças, novas estratégias”. Título do capítulo 5 do livro. Aqui, o autor mostra-nos outros caminhos para o nosso sucesso como País e como parte integrante e ativa da lusofonia.

 

O Atlântico é a nossa estrada e por aí devemos ir.


A edição é deste mês de Abril da “Lua de Papel” do universo “Leya”.

 

Silvestre Félix


(Capa do Livro do FB da editora)


26
Mar 13

 

Em “Rio das Flores”, a narrativa percorre o final da primeira república e a instauração do estado novo (eufemismo para regime fascista) que se seguiu à ditadura militar resultante do golpe de 28 de Maio de 1926.

 

Miguel Sousa Tavares descreve, duma maneira muito própria, a vida duma família de grandes proprietários alentejanos. Do amor incondicional à terra até à necessidade de conhecer novos mundos e outras aventuras, tudo cabe, bem distribuído, pela família Ribera Flores. Todos são diferentes e a grande linha divisória assenta na simpatia pelo regime de Salazar a ponto de um dos irmãos participar na Guerra Civil Espanhola pelo lado das tropas de Franco, enquanto o outro, pensava e praticava o antifascismo e, também por via disso, ter trocado o Alentejo pelo tropicalíssimo e acolhedor Brasil.

 

Rio das Flores” são seiscentas e tal páginas de boa literatura que aconselho vivamente. Não é dos livros mais baratos para os dias que correm mas, em vez de lhe oferecerem um telemóvel, peça um livro como prenda.

 

Miguel Sousa Tavares é sobejamente conhecido pela televisão e pelas suas brilhantes crónicas do “Expresso”. A 1ª edição desta obra aconteceu em 2007 pela “Oficina do Livro”.

 

Silvestre Félix


(Gravura: Capa da 1ª edição do Livro)

publicado por voltadoduche às 19:46

19
Fev 13

 

 

 

Desde que, em 1995, pelas telas das nossas salas de cinema passou Marcello Mastroianni interpretando o jornalista Pereira na Lisboa de 1938, que o romance “Afirma Pereira” de António Tabucchi tomou o seu lugar na minha prateleira de livros.

 

Ver o filme não substitui a leitura do livro e, por isso, voltei a folhear o romance na nova edição de bolso da Leya/Bis. É sempre importante visitarmos Lisboa quando a ditadura fazia o seu percurso, rodeada e guardada pela polícia política, pela censura e por todas as arbitrariedades que o toque fascista se dava ao luxo de cometer. Em plena Guerra Civil Espanhola, com o fascismo de Hitler e Mussolini avançando para a desgraça que viria a ser a Segunda Guerra Mundial e com um salazarismo perfeitamente sintonizado, tinha dias que o natural brilho de Lisboa era substituído por nuvens muito negras.

 

Se já leram o “Afirma Pereira” voltem a ler, se não, arranjem maneira de o ler. Esta edição de bolso está à venda por menos de seis euros.

 

António Tabucchi, nasceu em Itália em 1943 e morreu em Lisboa há menos de um ano, a 25 de Março de 2012. Tinha dupla nacionalidade pois desde novo de apaixonou por Lisboa e aqui casou e criou família. Tem uma vasta obra publicada em Portugal, em Itália e no mundo inteiro. De referir que recebeu inúmeros prémios internacionais ao longo da sua vida.

 

O “Afirma Pereira” foi publicado a primeira vez em 1994. Em Maio de 2012, depois da sua morte, a Leya/Bis publica a 1ª edição de bolso.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 15:10

04
Fev 13

Não estava certo que o sofrimento dos portugueses chamados “retornados” das ex-Colónias tivesse sido minimizado, ignorado e tantas vezes usado como bola de ping-pong no jogo político do PREC e dos tempos seguintes.  

 

Nos últimos anos tem aparecido vasta literatura sobre o tema. Algumas obras boas e esclarecedoras da situação, outras más e que carregam nostalgias contra naturas e historicamente desadequadas. Nem todos, na verdade só uma minoria, eram racistas e aplicavam a dose colonialista com o que de pior se entende.

 

É verdade que os portugueses que fugiram das ex-colónias nem sempre foram bem tratados aqui. Ainda hoje a expressão “retornado” tem uma carga pejorativa desproporcionada. Foram, duma forma geral e nos primeiros tempos, injustamente marginalizados.

 

O que aqui estou a escrever tem a ver com a transmissão pela RTP da série “E Depois do Adeus”. É exatamente sobre aquela época e aborda a questão dos refugiados das ex-colónias. É um documento sobre a nossa história contemporânea e merece ser visto nessa perspetiva. No entanto, e considerando os tempos conturbados de agora e a caminhada da deriva ultraliberal em curso, tenho receio que, o que na altura foi certo vire errado e o errado passe a certo.

 

Não podemos esquecer que houve culpados de todos os sofrimentos de há 40 e 50 anos. No pós-guerra (finais década de 40 e durante a de 50 do século passado), as democracias europeias trataram de dar um final aos seus impérios e fizeram as descolonizações acautelando os interesses nacionais e dos cidadãos residentes nas colónias.

 

No nosso caso o que foi feito? Salazar, quis escrever a história ao contrário e impôs o maior sofrimento jamais aplicado por um governante nacional aos seus e aos povos das ex-colónias – a guerra! Foram 13 anos de mortes e estropiados de todos os lados. Aqui está a verdadeira culpa! Salazar e os seus apaniguados fascistas.


Para contrabalançar a perigosa “onda” acusatória de alguns acontecimentos após 25 de Abril, aconselho a leitura de “OS CUS DE JUDAS” de António Lobo Antunes. Nunca li narrativa que melhor me “mostrasse” os horrores e as culpas da Guerra Colonial. E, para quem ainda tem alguma dificuldade em lidar com a genialidade da escrita de António Lobo Antunes, o romance “Os Cus de Judas” é o ideal para a ultrapassar, como aconteceu comigo. Este romance é o segundo da sua bibliografia oficial e foi publicado em 1979.

 

A 30ª edição desta obra é das Publicações D. Quixote do universo Leya e a versão bolso da BIS de Dezembro de 2010. Ainda se vai vendo por aí.

 

Silvestre Félix

publicado por voltadoduche às 15:59

25
Out 12

 

Embora tivesse “O último navegador” cá em casa desde 2008, só agora o li e ainda bem. O autor situa a principal personagem, Benjamim, num tempo que não é o nosso. Projeta-o para o ano de 2044 narrando acontecimentos trágicos no nosso País por esta altura, ou seja, 2012/2013.

 

Pela maneira miserável como os portugueses hoje vivem e sem saberem como vão viver amanhã, tem muito mais sentido a história do Virgílio Castelo do que tinha quando foi escrita em 2007.

 

O personagem Benjamim conta-nos como é Portugal monárquico depois de milhares de portugueses terem morrido numa guerra civil. Este Portugal é moderno e próspero e com uma nova mentalidade. Construi-se uma nova capital no centro do País e o povo transpira felicidade.

 

Toda gente conhece Virgílio Castelo através da sua principal profissão que é ator.

 

O último navegador” é uma edição da “Esfera dos Livros” sendo a 1ª em Setembro de 2008.

 

Silvestre Félix


(Gravura: Capa do Livro do site da editora)

publicado por voltadoduche às 16:33

12
Set 12

 

 

A história contemporânea de Moçambique foi escrita com muito sangue de luta pela liberdade e dignidade dum povo de incomensurável caráter. O fim da colonização portuguesa e a chegada à independência, não trouxe de imediato a tão esperada paz e o tão desejado desenvolvimento.

 

Lília Momplé, em “Neighbours” (palavra inglesa que significa “vizinhos”), retrata bem a conturbada vida moçambicana pós-independência. A maior ameaça vinha exatamente da “vizinha” África do Sul do apartheid que, entretanto tinha acolhido alguns colonos portugueses inconformados com a libertação moçambicana.

 

Lília, a partir duma fórmula simples, baseada em acontecimentos reais e com uma narrativa muito direta, conta-nos o drama humano vivido pelo povo moçambicano naqueles anos a seguir à independência.

 

Lília Momplé nasceu em 1935, na Ilha de Moçambique. Tem tido uma intensa atividade dentro e fora do seu País, chegou a ser membro do Conselho Executivo da UNESCO em Paris e é membro de honra da Associação dos Escritores Moçambicanos, onde já exerceu os cargos de Presidente e Secretária-Geral.

 

É uma edição da Porto Editora de Julho de 2012.

 

Silvestre Félix


(Gravura: Capa do livro do site da editora)


01
Set 12

 

 

A história recente do Tibete é uma espinha atravessada na “garganta” da China que cada vez mais faz parte do nosso dia-a-dia, seja do ponto de vista económico, social ou cultural.

 

O livro “Filha do Tibete” transmite-nos a realidade resultante da invasão chinesa em 1950 durante a Revolução Cultural de Mao Tsé Tung do antes, País independente, Tibete. A “Filha do Tibete”, é a própria autora, Soname Yangchen que conta a sua história desde que, ainda criança foi obrigada a sair de casa dos seus pais para trabalhar na capital, Lhasa.

 

Soname, ainda pouco mais que criança, protagoniza a mesma fuga empreendida antes e depois dela, por milhares e milhares de tibetanos, incluindo o Dalai Lama, para o norte da Índia. Todo o sofrimento de Soname tem de ser enquadrado pela forçada submissão a que os tibetanos foram sendo conduzidos. Ainda hoje, os tibetanos permanecem aferrolhados pelo regime do invasor que tudo controla.

 

A autora e protagonista da história contada no livro, com a força de Dalai Lama sempre presente, com quem esteve algumas vezes pessoalmente e, em tantas outras, nas concentrações coletivas, e com os ensinamentos do Budismo como Guia da sua vida, conseguiu vencer as contrariedades e descobrir em liberdade outras verdades que, durante muito tempo, desconheceu.

 

Estas quase 200 páginas de leitura são fascinantes e aconselho a leitura.

 

Soname Yangchen nasceu em Yarlung no Tibete em 1973. Hoje, vive na Inglaterra onde é uma conhecida cantora de world music.

 

A primeira edição é de 2006 e a que li é de 2008 e a editora é a “Quidnovi” com a etiqueta “Mulheres de coragem”.

 

Silvestre Félix


(Gravura: Capa do livro do site da Wook)

publicado por voltadoduche às 22:17

23
Ago 12

 

A leitura de “O teu rosto será o último” de João Ricardo Pedro, Prémio Leya 2011, foi muito do meu agrado.

 

O livro percorre o nosso tempo desde o 25 de Abril de 1974. O autor construiu a sua narrativa atravessando acontecimentos, para mim, ainda muito presentes. A Guerra Colonial, o próprio 25 de Abril e o retorno dos portugueses que se seguiu, desde as várias Colónias.

 

Dá pulos ao passado dominado pelo Estado Novo que se fez velho cravando a canga da ditadura às costas do povo português. A história da família contada pelo autor, também passa pela resistência anti-fascista, incluindo rusgas da Pide, prisões e consequentes assassinatos. Ainda hoje se pretende branquear muitas situações destas.

 

João Ricardo Pedro nasceu na Reboleira, Amadora, em 1973. É o seu primeiro livro.

 

Foi editado pela “Leya, SA” com 1ª edição em março de 2012.  

 

Silvestre Félix


(Gravura: Capa do livro do site da editora)

publicado por voltadoduche às 16:12

12
Ago 12




Marc Levy é o autor francês mais lido em todo o mundo. Quando escreveu “Os filhos da liberdade”, quase 20 milhões de exemplares vendidos e publicado em mais de 40 idiomas, tinham passado 6 anos desde; “E se fosse verdade…”, o seu primeiro livro.

 

Filho de um membro da Brigada da Resistência francesa durante a ocupação nazi na Segunda Guerra Mundial, Marc Levy ouve, quando já tinha 18 anos, a verdadeira história daquela brigada composta por um grupo de adolescentes de que fazia parte seu Pai. Em resultado da sua narrativa e da investigação que se seguiu, o autor concluiu o extraordinário romance; “Os filhos da liberdade”.

 

A leitura do livro é empolgante e lembra-nos que há pouco mais de meio século a Alemanha nazi invadiu boa parte da Europa provocando mais de 70 milhões de mortos. Pouco mais de 20 anos antes, a mesma Alemanha, já tinha liderado a coligação que provocou a Primeira Guerra mundial com quase 20 milhões de mortes.

 

Os germanófilos continuam a desdobrar-se na divulgação das virtudes alemãs mas, neste tempo de crise, e com as posições polémicas do atual Governo alemão, a leitura do romance de Marc Levy alerta-nos para os perigos que a irresponsabilidade dos líderes europeus pode criar.

 

Marc Levy nasceu em 1961 e escreveu o seu primeiro livro em 2000. Vive entre Paris e londres e dedica-se inteiramente à escrita.

 

Este livro foi publicado em 2007 e, em Maio de 2012, a Bertrand publicou em versão de bolso este extraordinário romance; “Os filhos da liberdade” e subtítulo; “Uma história comovente de resistência, coragem e amor”, que custa só 8 euros. Não deixem de lê-lo.

 

 

publicado por voltadoduche às 23:18

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